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terça-feira, 25 de maio de 2010

Aprendendo a Pensar




"Série: Criando uma mente saudável”

Autor: Jon Talber



A ação que transforma é espontânea, o resto é repetir, e repetir...

Observe uma criança recém nascida, ela ainda não sabe falar, mal consegue enxergar além do seu próprio nariz, e é completamente dependente dos seus pais ou responsáveis. No interior do seu cérebro existem apenas as informações necessárias para que seja capaz de exercer seu instinto, é por isso que ela sabe chorar, sabe expressar um desconforto físico. Para quem não sabe, um bebê não enxerga direito, seu sistema visual ainda carece de amadurecimento, e nessa fase, ele vê tudo embaçado, difuso, sem uma forma definida, até porque seu centro cerebral, o gerenciador de informações recebidas, ainda está se organizando.




Quem ou o que gravou em seu cérebro as informações instintivas, a chamada memória instintiva, isso não é assunto para ser discutido agora, mas graças a isso, ela sabe fazer “algumas” coisas, mesmo sem ter recebido instrução prévia, de nenhum adulto. Os demais animais, os irracionais, também funcionam desse mesmo modo.
Seus pais ou responsáveis, que já possuem uma razoável experiência de vida, que podem ser jovens ou adultos, já convivem em um mundo bem conhecido deles, com suas regras, suas anomalias, suas tradições culturais, suas crenças, suas ideologias políticas e religiosas, e assim por diante. O modo como estes “responsáveis” vão tratar essa criança, logicamente, vai depender do conhecimento que possuam. Se apenas conhecem o seu modo de cuidar das coisas, irão se valer dessa experiência, desse modo de agir e interagir, para cuidar do seu bebê.
As cantigas de ninar que cantarão para fazê-lo dormir, ou acalmá-lo, serão aquelas que já conhecem, que sabem cantar, mal ou bem, que também escutaram quando eles próprios eram crianças. Até aí não há novidade alguma, afinal de contas, todos agem da mesma forma, todos repetem aquilo que já aprenderam antes, essa é a lógica da coisa.
Mas, aquela criança, ainda não repetiu nada, não tem experiência de vida, por isso não possui memórias, que são as lembranças das coisas vivenciadas, experimentadas. Por isso, ainda não deseja, não sente raiva ou empatia, não é medrosa, nem guarda rancor das pessoas, ou planeja um futuro, qualquer que seja, para si mesmo.
Nessa etapa, as crianças, estão completamente vazias, por isso não pensam, mas já possuem o potencial para serem preenchidas, pelo pensamento dos outros. Conhecer a utilidade de uma coisa para depois decidir o que fazer com ela, isso é pensar, deduzir, e isso requer experimentação anterior, vivência, memorização, e como elas ainda não passaram por nenhuma dessas fases, não sabem para que as coisas servem, portanto, não pensam.
Mas a capacidade de pensar, isso elas já possuem. Capacidade de pensar é bem diferente de saber pensar. A capacidade de pensar é involuntária, é inata, não depende de memórias, nem de lembranças. O instinto é assim, não carece de experimentação anterior, mas existe. Saber pensar é coisa calculada, que requer memórias, lembranças de como as coisas funcionam, para que servem. O pensamento é um ordenamento das memórias, de modo que arrumadas de forma lógica, façam algum sentido, signifiquem alguma coisa, capaz de se expressar através de uma ação, do veículo, quer dizer, do indivíduo.
Assim, a capacidade de pensar, todo ser humano possui como potencial, e isso não depende de suas vontades, ou de aprendizado algum. Já para se construir um pensamento, esse mesmo ser humano, precisa de informações, precisa de experiência, necessita da lembrança das suas memórias. As memórias virão, serão formadas quando ele tiver experimentando as coisas do mundo. Quando estiver com todo seu sistema sensorial funcionando perfeitamente, pronto para receber, perceber e interpretar de forma clara, às impressões que lhe chegam do mundo exterior.
Interpretar nessa primeira fase, se resume a avaliar de forma clara, quando um objeto ou situação, embora não possam ser racionalmente compreendidos, podem ser capturados pelos seus órgãos sensoriais, isto é, ser percebido. Ela, a criança, ainda não possui intelecto, que são as memórias de sua experiência de vida, pois ela está no inicio de sua jornada, vazia, aguardando por tudo isso. Nessa etapa da vida, ela aprenderá muito com aqueles que estão do seu lado.
Desse modo, seu cérebro, embora ainda vazio de informações, de memórias, das regras operacionais do mundo, já possui a capacidade involuntária de memorizar qualquer coisa capaz de ser detectada pelos seus cinco sentidos. Receberá assim as primeiras informações, vindas de outro adulto, que já sabe das coisas, que já vive estas coisas, que já faz parte de um mundo existente, que repete suas regras morais, materiais e espirituais, desde incontáveis gerações.
E como os adultos, elas também serão ensinadas a repetir. Se já existe em cada ser humano um potencial inato, para através da repetição, apreender as coisas que lhe sejam necessárias à sobrevida na terra, os adultos, que já são mestres no repetir de velhas regras, mitos e tradições, tenderão a repassar todo processo pelo qual os mesmos já passaram, às suas crianças.
E todas as regras de funcionamento de qualquer coisa existente em nosso mundo, serão simplesmente copiadas, de uma mente para outra, do mesmo modo que se duplica um livro já publicado. E do mesmo modo que se revisa um livro, também, eventualmente, alguma ressalva é acrescentada a tudo que já existe, e basicamente é a isso que chamamos de pensar. Assim, para nós, repetir velhos procedimentos técnicos ou sentimentais, significa pensar.
Se observarmos uma criança a brincar, entretida com um brinquedo do qual ela realmente gosta, parecerá a mesma separada do resto do mundo. Nesse processo de atenção total, ela não segue nenhuma regra estabelecida, ela cria suas próprias alegorias, de forma livre, ignorando mesmo o conhecimento rígido que possua sobre outras brincadeiras que lhe são familiares. Poderá até repetir gestos, rotinas de atividades que já conhece, mas a exemplo da capacidade de andar, onde o pensamento não interfere, assim também nesse momento sucederá.
Longe da rigidez das regras pré-estabelecidas, onde o pensamento não está exigindo, comparando, seguindo regras que não podem ser quebradas, ela fica a vontade para criar, sem medo dos censores, sem medo de castigos, sem a obrigação de agradar para receber recompensas. Nesse estado de ignorar os próprios pensamentos, ela se torna inteligente. Não é dependente nem prisioneiro de ninguém, de nenhuma lei, não precisa seguir roteiros conhecidos, está disposta a criar seu próprio caminho.
Cumpre ao educador compreender o que significa este não pensar, e apenas assim, terá dado o primeiro passo rumo ao que de fato significa pensar. Ao perceber que não pensa, estará pela primeira vez, pensando. Não se trata de jogo de palavras, mas a simples constatação de que aquilo que ele chama de pensamento, de fato não é pensamento, apenas discordância ou concordância, já demonstra inteligência.


Autor:
Jon Talber - jontalber@gmail.com